São Paulo amanheceu dividida entre dois grupos hoje: as pessoas que odeiam e as que amam os corintianos. Nem tanto o Corinthians – um terço dos palmeirenses, por exemplo, torceu pelo Timão no Japão. Eu fiz parte do grupo dos que odeiam os corintianos. Não todos os corintianos – minha mãe e minha irmã, por exemplo, eu não odeio.
Mas eu odeio com todas as forças os patetas que acordaram às 6h da manhã para torcer e importunar a paz de pessoas como eu, que sinceramente não dão a mínima para futebol e para duas dúzias de homens correndo de um lado para outro… Ou os que nem foram dormir, e começaram a queimar os fogos e a paciência alheia e cantar vitória bem antes da hora.
Eu, pelo menos, tive uma sorte: apesar do barulho insuportável dos fogos de artifício, que continua horas depois da vitória do Timão, eu não precisei sair de casa hoje. Li de cabo a rabo o livro sobre o qual comentei ontem, passeando por Jerusalém e por Gaza no período em que morei lá. É verdade: fiquei irritado, escondi meus ouvidos entre doze travesseiros, praguejei, reclamei no Facebook, tive pena dos cachorros…
Mas pelo menos não saí de casa, não precisei olhar na cara de nenhum corintiano fedido balançando sua pança feliz, sem a camisa do time… Não foi essa a sorte da menina do vestido verde. Ela estava na rua, em plena Vila Madalena. Caminhava pelo bairro mais cheio de bares de São Paulo – logo, o bairro mais cheio de bêbados, mesmo às 11h e tanto da manhã (os bêbados, hoje, acordaram cedo!) Não teria sido nada, não tivesse ela escolhido o vestido verde quando se apressou para sair de casa.
Ela nem se deu conta da escolha errada. Colocou o vestido e saiu pelas ruas. Ao ser avistada, provavelmente por olhos sem foco e embriagados de alegria alvinegra, também não se deu conta. Mas foi perseguida pela rua por três sujeitos, que a tocaram, disseram que ela não podia vestir verde hoje, puxaram seu cabelo preso com um elástico verde… Pessoas bêbadas e suas teorias não menos embriagadas…
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