Essa semana começou (pelo menos aqui) com uma ressaca de 11 de Setembro. Passei o domingo assistindo à intensa programação de aniversário de 15 anos no History Channel e na National Geographic. Preferi não ver or noticiosos que mostram a política (e a doença!) dos candidatos à Casa Branca usando o Ground Zero como palanque de campanha… Embora os programas batam sempre nas mesmas teclas e mostrem o horror daquela terça-feira de 2001 (que nunca deixa de me chocar), prefiro essa repetição.
Bush no Air Force One no 11S (foto: Eric Draper/George W. Bush Presidential Library and Museum)
Enfim, tudo isso pra dizer que no meio disso tudo, um texto, de Garrett M. Graff, chamou minha atenção. Publicado no Politico, disseca as oito horas em que o então presidente George W. Bush passou no ar, dentro do Air Force One, desde que soube dos ataques em uma escola na Flórida. “We’re the Only Plane in the Sky” é um relato detalhado montado a partir da lembrança de quem estava próximo ao presidente naquele dia – 65 pessoas, entre tripulação, assistentes e jornalistas. Espero que vire filme para o próximo aniversário do 11 de Setembro.
O Business Insider publicou uma coleção de fotos mostrando os momentos de Bush logo após os ataques – na escola e a bordo do avião presidencial (como a que ilustra este post, do U.S. National Archives). As imagens revelam o improviso de uma sala de situação ainda na escola da Flórida e a tensão gritante no rosto de Bush e de seus assessores enquanto assistem às notícias e vêem as imagens das Torres Gêmeas queimando em uma TV analógica e corpulenta e caminham sobre um tapete estampado com letras e números coloridos.
E chega de 11S. Outra sugestão vem do Nexo, que publicou um ensaio interessante sobre hobbies. “Por que você não precisa transformar seu hobby em fonte de renda“, de Ana Freitas, conta a história dos hobbies e explica que, ao se tornar fonte de renda, o hobby “perde seu caráter original: ser uma atividade livre de obrigações”: “A diferença fundamental entre os dois está entre aquilo que você faz por obrigação – o trabalho – e aquilo que faz em nome da realização pessoal, sem pressão ou obrigação”.
O bósnio Sabahudin Delalić em disputa de vôlei sentado (foto: Zimbio)
Com muito menos atenção da imprensa e do público que as Olimpíadas regulares, as Paraolimpíadas (eu prefiro, como a Folha, o termo reconhecido pelo português!) acontecem quase à margem de todo o resto. João Pedro Soares, na Piauí, conta a história do time masculino de vôlei sentado da Bósnia-Herzegovina, que “venceu as últimas nove edições do campeonato europeu e é o atual campeão do mundo”. Muitos dos atletas bósnios são mutilados de guerra, feridos “na década de 90, durante o prolongado conflito em que o país se livrou do domínio sérvio no processo de dissolução da antiga Iugoslávia”, como conta Soares. O texto desvela o pouco apoio do Estado aos atletas paraolímpicos apesar de depositar neles a esperança de medalhas – que têm vindo. É para acompanhar.
Outra sugestão é o texto de uma colega que acompanho e admiro há bastante tempo (e com quem tive a sorte de trabalhar no Estadão). Adriana Carranca conta, nesse jornal, a história da adoção de um jovem sírio por um casal de Berlim. Ele é filho e neto de nazistas, convertido ao judaísmo. A família dela, sobrevivente do Holocausto. O jovem adotado, de Damasco, é um muçulmano que fugiu da Síria para escapar do alistamento militar.
As cenas da massa que chegou à Europa por mar e atravessou suas fronteiras em trens lotados, a pé por trilhos e campos, dormindo ao relento, no último ano, compõem o retrato do maior êxodo desde a 2.ª Guerra. Essas duas pontas da História se encontraram agora no universo privado de um apartamento espaçoso no coração de Berlim.
Você deve ter visto o
slogan “Bora, Temer” que o publicitário oficial do novo governo, Elsinho Mouco, criou para contornar o “Fora, Temer” que tomou as ruas desde que o agora presidente foi confirmado no cargo. Pois o também publicitário Jayme Serva imaginou como o “Bora” foi criado por Mouco, em um texto divertido no Blue Bus, “Todos os foras do presidente”: frases rimadas que funcionam para várias situações usando o “Fora, Temer” como inspiração. Parece coisa de louco. Deve ser.
Hoje li na Folha um obituário. Gosto especialmente de obituários porque eles são uma forma muito sutil de homenagem – e estamos acostumados a ler bonitos obituários de celebridades e pessoas destacadas em diversas áreas. O que chama a atenção para este texto sensível de Juliana Gragnani é o fato de que o homenageado não era famoso. Aldemir Pontes trabalhava como reciclador no Bom Retiro, bairro da região cenral de São Paulo. Foi morto ao ser atingido por uma flecha disparada por um homem, que já foi preso. E não é um obituário qualquer – a jornalista teve o trabalho de conversar com conhecidos, refazer o último dia de vida do homem. Homenagem à altura.
Daqui do Chile, para terminar por hoje, a coluna do jornalista Nicolás Copano, que escreve no Publimetro (a versão local do Metro Jornal). O texto propõe uma reflexão: “Todas as coisas que você pode ir aprendendo ao completar 30 anos”. Desenferruje seu espanhol e boa leitura! Vai uma palhinha traduzida:
Outra coisa importante é aprender a se decepcionar. À primeira vista, a promessa é sempre grata. Mas qualquer coisa pode rompê-la – o contexto ou a lealdade do outro com você mesmo. Nunca acredite muito em ninguém. Apenas tente entender às vezes que as pessoas são “exageradamente humanas” e têm problemas muito parecidos aos seus. (…) Conversar não é fazer um monólogo. É aproximar-se do outro e escutá-lo, tentando entender a partir de que experiências fala. Em uma era em que todos somos avatares disparando letras, o diálogo se deformou para virar um ir e vir de sentimentos mais que de fatos. Porque muitas vezes não queremos saber o que o outro sente: só queremos confirmar o que nós mesmos trazemos de antes. Esse é um error garrafal para estabelecer qualquer tipo de vínculo. É preciso ter amigos também para discordar deles.
Bom fim de semana. Aos que estão no Chile, bom feriado. O país embarca hoje no fim de semana prolongado das “fiestas patrias”, com comemorações parecidas às nossas festas juninas. Por isso hoje o post chega mais cedo – o dia é mais curto por aqui! Aos chilenos, feliz dieciocho!
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