Hoje é o Dia Internacional do Refugiado. A data é celebrada pela ONU desde 2001, quando marcou 50 anos da Convenção dos Refugiados, de 1951. De lá para cá, em função de conflitos e de tragédias ambientais, as coisas têm piorado. Em meio aos atos pela data, a Acnur, agência da ONU dedicada aos refugiados, divulgou dados aterrorizantes sobre essa população que, se fosse um país, teria mais habitantes que o Reino Unido, a 22ª nação mais populosa do planeta.
São 65,3 milhões de pessoas, ou um em cada 113 habitantes do mundo – ou quase 1% da população mundial.
Os dados mais tristes são os de crianças, que formam mais da metade da população de refugiados. São 51% dos refugiados do planeta, bem mais que os 41% de 2009. “Nunca vimos tantas crianças refugiadas desacompanhadas”, apontou a entidade, que recebeu 98,4 mil pedidos de asilo de crianças desacompanhadas ou separadas dos pais, principalmente afegãs, eritreias, sírias e somalis.
Vale dizer que esse número inclui os refugiados, os que estão em deslocamento forçado e os que pediram asilo. Com os dados e com a data, diversas coisas estão sendo publicadas – de textos na imprensa a campanhas em prol dos refugiados. A Acnur está marcando a data com a campanha #WithRefugee, com que pretende chamar a atenção dos governos para a questão e reivindicar educação para as crianças, moradia e trabalho para todos.
E há outras coisas interessantes. Uma delas é um
especial sobre xenofobia publicado pelo HuffPost Brasil, apontando que, apesar da larga tradição de “braços abertos”, nosso país está longe de ser o paraíso dos estrangeiros – refugiados ou não. “O número de casos de xenofobia no Brasil teve um (…) salto de 633% (em 2015 em relação a 2014), de acordo com dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos“.
Ainda segundo o especial, que desdobra vários assuntos e ouviu gente de Cuba, Haiti, Nigéria e até uma brasileira convertida ao Islã, “a chegada de novos refugiados ao país em meio a uma crise mundial teria provocado o crescimento da intolerância“.
Outro alerta importante do HuffPostBR tem a ver com a lei. “A disparada das denúncias não é acompanhada pela Justiça: menos de 1% dos casos viram processos”. De fato, segundo um estudo da Anistia Internacional, o brasileiro não está entre os mais tolerantes quando o tema é refugiados.
Entre os 27 países pesquisados, o Brasil aparece na 18ª posição, com 49% dizendo que receberiam essas pessoas de braços abertos. A lista é encabeçada pela China (85%) e tem vários países europeus no topo, como Alemanha (2º, 84%) e Espanha (6º, 71%). A Rússia está na lanterna, com apenas 18% se mostrando receptivos aos refugiados.
Atualização: o Nexo, sempre excelente e preciso, publicou uma nota explicando a diferença entre visto humanitário e refúgio e mostrando que o Brasil abriga atualmente apenas 0,013% dos 65,3 milhões de refugiados do mundo. Resumindo a diferença entre as duas modalidades, uma delas criada pela lei brasileira:
O refúgio é aplicado a pessoas que deixam seus países de origem sob fundado temor de perseguição ou em situações de conflito armado. O visto humanitário pode ser aplicado a essas mesmas situações, mas também a vítimas de crises econômicas e ambientais – categorias não contempladas no refúgio.
Em maio, o mesmo Nexo havia publicado um apanhado sobre os refugiados que o Brasil acolhe, com dados de 2010 a 2015: “dados do governo mostram que mais de 28 mil estrangeiros pediram refúgio no Brasil alegando temor de perseguição, só em 2015; haitianos são os que mais procuram, mas sírios são os que mais recebem abrigo”. (capa: crianças em um centro de absorção em Roma/ foto: Rick Bajornas/ONU)
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