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Writer's pictureGabriel Toueg

A política, a ditadura, o machismo e as amizades

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Bolsonaro: vai perder a amizade por causa dele? (foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo)

Acabei de ler um texto do Alexandre Inagaki que traduz meu sentimento das últimas semanas – quiçá dos últimos meses – com relação ao que as pessoas estão fazendo (eu também, já admito de largada) em suas relações em função do que acontece na política nacional (e internacional, em muitos casos, como é comum no meu círculo de amigos que acompanham o Oriente Médio com paixão).

Depois das declarações absurdas de Bolsonaro no último domingo (pelas quais ele certamente sofrerá algum tipo de reação, que pode ir da cassação do mandato a ter de responder a um processo por apologia à tortura), muita gente começou a procurar e apagar amigos que curtem a página do deputado no Facebook. Eu mesmo fui olhar e vi muitos colegas de profissão entre os 37 amigos que “curtem” o Bolsonaro. Não apaguei ninguém, contudo.

[Isso me fez até pensar que o Facebook deveria ter um botão de “acompanhar” nas páginas, como tem nos perfis pessoais, de forma que pudéssemos (jornalistas, principalmente, e interessados) seguir determinada pessoa sem necessariamente manifestar apoio a ela com o “curtir”. Mas isso fica pra outra discussão.]

O fato é que estamos fazendo tudo errado, meus caros.

No texto, o Inagaki indaga se vale a pena perder uma amizade por causa de política. Eu acho que não. Dia desses uma pessoa veio me contar que foi excluída por dois amigos de infância de um grupo em que os três participavam porque ela criticou o Cunha. Como bem lembrou o Inagaki, citando o jornalista Alon Feuerwerker, “os políticos se entendem, mas (depois da briga por causa deles) você perdeu um amigo”.

Como eu disse para a pessoa, brigas por política são como amor de verão: não duram.

Comecei esse texto pensando em dizer que para alguns assuntos – como a ditadura de Bolsonaro ou o machismo da Veja – não deveríamos ser flexíveis. Para casos assim, eu ia dizer, o melhor mesmo é cortar os laços e mandar amigos e parentes às favas. Mas refleti bem até chegar aqui e acho que não. E acho que, sempre que houver espaço para o diálogo, é claro (nem sempre há, lamentavelmente, e cada vez há menos), precisamos tentar conversar sobre o assunto.

O Inagaki mencionou um fator muito importante nesse lenga-lenga todo: o filtro-bolha. Na vida virtual nos isolamos cada vez mais, em vez de justamente ter a chance de dialogar, aprender, ensinar, ajustar opiniões etc. Acertadíssimo quando ele escreve assim (o grifo é meu):

Na vida online é até simples você se esquivar destas pessoas de quem você discorda, mas você não poderá ignorá-las quando elas se manifestarem no elevador do seu prédio, no táxi que você pegar, no escritório em que você trabalha, na escola em que seus filhos são educados. E é por essas e outras que eu insisto com a filosofia de manter amigos de diversas correntes ideológicas e orientações religiosas em minha timeline, que me ajudam a enxergar a realidade sob diversos prismas, repensar constantemente certezas que não devem ser definitivas e tentar buscar o convívio amistoso com diferenças

Estamos todos com os nervos à flor da pele nesse momento. Todos temos convicção das nossas ideias e ideais. Todos temos o que dizer e queremos ser ouvidos (até o Bolsonaro e o Cunha, para o que vale). Não seria melhor se passássemos a nos escutar em vez de tapar o ouvido e cantarolar um infantil “lá-lá-lá-lá” enquanto as pessoas com quem não concordamos tentam falar?

PS.: sobre o machismo da Veja, fiz aquele post porque fiquei muito irritado com a matéria (escrita por uma mulher, pra piorar as coisas!) que ressalta as características da Marcela Temer, que a revista chamou de futura primeira-dama (eu aprendi que futurismo e jornalismo não combinam, mas ok…) Como o brasileiro é muito criativo (e muito rápido), não demorou pra pipocar na internet (no Facebook e no Instagram) a campanha #belarecatadaedolar (até a Netflix entrou na brincadeira). O humor vale como lição diante daquilo de que discordamos!

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