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Atrasadas, as boas notícias sobre a ditadura não são boas notícias

  • Writer: Gabriel Toueg
    Gabriel Toueg
  • Feb 7
  • 2 min read

Updated: Feb 10

Circularam, nos últimos dias, duas notícias que merecem/ devem ser compartilhadas e comemoradas:


  1. Da Carta Capital:



  1. da CNN Brasil:


Os "ex-agentes da ditadura" mencionados no texto da Carta Capital são os coronéis do Exército Brasileiro Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel. Foram comandantes do Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) entre 1970 e 1976. Já morreram.


O DOI-CODI era um centro de tortura. O caso mais notório é o da morte "suicidada" do jornalista Vladimir Herzog, em suas dependências. A família de Vlado é quem recebeu, da JFDF, o direito de rececer uma pensão pela morte, pelo Estado, do jornalista.


Ustra e Maciel eram torturadores, portanto. Comandavam torturadores, eram tanto quanto. Mas tinham (ou têm) até hoje cargo público. Pois é.


O vislumbre de que eles podem ser, de alguma forma, "condenados", é uma boa notícia, é fato. Mas uma boa notícia que chega com atraso de décadas.


Estamos em 2025. A Ditadura Militar brasileira (1964-1985) acabou há 40 anos. O governo Dilma, que instituiu a Comissão da Verdade, acabou há 9 anos. E ainda assim, Ustra, um torturador sabidamente torturador, com nome, sobrenome e endereço, morto há 10 anos, segue com “cargo público”. A família dele segue recebendo pensão.


Em 2023, o governo gastava obscenos 8,6 bilhões de reais com pensões para viúvas e filhas de militares. De 2008 para 2023, o valor nominal das pensões pagas subiu 68 pontos percentuais acima da inflação oficial (IPCA).


A maior traficante de bebês da história, central na minha pesquisa, é Arlete Hilú. Morreu em 2023, aos 78 anos. Filha de militar, apesar de ganhar até 50 mil dólares por bebê traficado, ela também recebia uma pensão — mesmo depois de ter sido presa, julgada, condenada e ter cumprido pena não uma, mas 2 vezes, reincidente.


A aposentadoria dos militares custa aos cofres públicos 30,9 bilhões de reais (dado de 2023). Também em relação a 2008, o valor cresceu 41 pp. acima do IPCA. E mesmo assim, a gente acha que uma notícia desse tipo é algo a se comemorar.


É uma obscenidade que Ustra ainda possa ter o nome brandeado a todo pulmão por um deputado de Baixo Clero durante uma votação de impeachment e que nada lhe aconteça (além de virar presidente, transformar o gabinete num puxadinho da Ditadura Militar e tentar dar um golpe).



Enquanto o Brasil não tiver coragem de lidar com os privilégios dos militares, precisaremos comemorar notícias absurdas como essa. A PGR está 40 anos atrasada. A Justiça do DF, 50 (Vlado morreu em 1975).


Foto de capa: Estadão

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