Nas últimas semanas tenho recebido uma série de perguntas que rondam, mais ou menos, em torno do namoro entre o jornalismo e as relações internacionais. Suspeito que minha incursão nas RI, ainda que bastante iniciante no formato acadêmico, seja um dos motivadores desse questionamento. E, por terem aparecido tantas dúvidas, resolvi escrever este post.
Devo dizer que sou jornalista por formação, embora a discussão sobre a obrigatoriedade do diploma – da qual discordo completamente no formato em que a profissão é ensinada no Brasil – esteja vigente e ainda sem uma decisão final. O último martelo bateu pela não obrigatoriedade, abrindo a profissionais de diferentes áreas a possibilidade legal de trabalhar como jornalistas.
Valeria aqui uma discussão sobre quem o que é o Jornalismo, mas eu vou ficar de fora dessa, porque envolve muitas polêmicas, especialmente em tempos nos quais qualquer pessoa que esteja no lugar certo e na hora certa e com o equipamento necessário e uma conexão minimamente decente pode atuar como jornalista. Ou como o que os americanos chamam de citizen journalist.
Volto, então, às Relações Internacionais. Tenho atuado nos últimos muitos anos no campo do jornalismo internacional, escrevendo sobre política externa, trabalhando como correspondente a partir do Oriente Médio e lidando de perto com fontes envolvidas nas decisões de governos de diferentes partes do mundo, especialmente durante minha passagem no Estadão.
Defendi há pouco a desobrigatoriedade do diploma de Jornalismo. Explico: conheço excelentes jornalistas que nunca frequentaram uma faculdade. Tenho colegas muito capazes que fizeram Relações Internacionais e são ótimos analistas, acima de tudo. As técnicas do Jornalismo podem ser aprendidas na redação, na rua. Não é preciso ser um gênio para manejar um gravador…
Estudos. Apenas a partir da metade do ano passado, por minha decisão, comecei a me aproximar dos estudos de Relações Internacionais. Fazia sentido: com uma formação teórica tão pendenga, embora reforçada com minha vivência fora e muita leitura, sentia falta de debater política internacional não apenas com fontes, em entrevistas, mas com acadêmicos que dominam o assunto a fundo.
Por isso, passei a participar do Grupo de Trabalho sobre Oriente Médio e Mundo Muçulmano (GTOMMM), coordenado pelo professor Peter Demant, na USP. Também na USP, a partir do começo de 2013, e também ao lado do Demant, tenho atuado com dois outros colegas na monitoria do curso de História das Relações Internacionais. É claro que o Oriente Médio me desperta mais interesse e atenção, por isso faço ainda a disciplina Islã e Ocidente: intervenções e reações, disciplina nova na USP.
Tudo isso para dizer que a formação em Jornalismo, na forma atual, não basta para profissional algum, em área alguma. Com as Relações Internacionais, não é diferente. Embora eu tenha feito o caminho contrário, minha sugestão no melhor estilo “faça-o-que-eu-falo-não-faça-o-que-eu-faço” é cursar a área de interesse e, depois, se o jornalismo ainda fizer os olhos brilharem, Comunicação. As combinações são infinitas e os cursos à disposição (que não precisam ser de graduação ou pós), idem.
Isso tudo, é preciso dizer, não se basta. Além da formação formal, na faculdade, é preciso conhecer idiomas, viajar, vivenciar culturas diferentes, conversar com pessoas diferentes e ler muito, sobre os assuntos que te interessam e sobre o que se precisa saber. Só assim é possível preencher o quebra-cabeças que nos permite entender o mundo. (Foto: Google Images)
Para ler outras respostas, entre aqui.
Comments