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Writer's pictureGabriel Toueg

Relembrando a despedida

Despedir-se de um pais definitivamente não é coisa simples. Não importa quanto tempo você passou por lá. Na marra ou não, aprendeu coisas, decorou nomes esquisitos de ruas, passou a se localizar entre elas…

A despedida de um país é uma mistura de sentimentos, uma correria, lista de coisas que esperam ser resolvidas… Mas tem um momento que, olhando pra trás, é o momento da despedida – aquele em que, finalmente, a ficha cai. Não é a festa que os amigos te fazem, nem aquela cerveja que você toma com um ou com outro, nem o abraço apertado e molhado de lágrima no aeroporto.

O momento da despedida de Israel, no meu caso, rolou logo após a festa de despedida no Noga, um bar que precisava ter filial em São Paulo, com suas garçonetes, suas mesas de sinuca, sua boa música. Era a véspera da minha partida.

A ficha insistiu para cair, naquele momento em que, festa terminada, me vi então sozinho, voltando de moto (já vendida) pra casa. Percorri de novo aquele caminho que havia percorrido tantas vezes. Vi os prédios que via sempre, mas eles pareceram estranhos.

Naquele caminho curto, encurtado mais ainda pelo vazio das ruas, flashes dos sete últimos anos passearam na minha memória, dentro do capacete: o dia em que botei os pés em Israel pela primeira vez, sem saber uma palavra de hebraico. As pessoas que conheci. Os amores que tive e destive. Os amigos. Os loucos trabalhos. A guerra e meia que vi. As notícias que dei. O livro que não escrevi…

Foram sete anos de flashes. Não espere que eu os transforme em meia dúzia de palavras.

Além dos flashes, com a ficha caindo, apareceu diante de mim aquela lista de coisas que ficaram – e ficariam – sem fazer. E, chorando, pensei nas coisas que não tive tempo de fazer, nas pessoas que não tive tempo de ver e de abraçar, nas palavras que não tive coragem de dizer… Simples assim, sem trilha sonora nenhuma.

Eu acho que não sabia. Talvez sim. Mas aquele, ali, foi meu momento de despedida dos últimos sete anos. Fechei a última capa, grossa e pesada, do livro da história sem fim. E fui deitar.

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