Eu leio um trecho de um livro em que uma israelense de 17 anos relata a explosão de um atentado em sua rua, em Jerusalém, e resolve, dias depois, escrever uma carta e jogá-la ao mar, com a esperança de que acabe chegando em Gaza e seja lida por um palestino qualquer. No trecho em que leio, ela diz que nunca foi boa em literatura, mas vivenciar tão de perto o ataque a fez querer escrever. “Como se um rio de palavras precisasse sair de dentro de mim para que eu pudesse viver. Tenho a impressão de que nunca conseguirei parar”.
Imediatamente, penso nos livros que não escrevi e olho para o arquivo aberto diante de mim, quase em branco, com o cursor esperando um sinal meu, um batucar de qualquer ritmo no teclado que tenho diante de mim, para que as letras formem palavras, para que elas formem frases, e para que elas formem uma história qualquer, que dê algum sentido a algum dos meus sentimentos. Desvio o olhar mas o pensamento me persegue. Fica no arquivo quase em branco apenas uma linha, fruto de um momento de inspiração. Nem deve estar bom.
Penso então, ao voltar o olhar para o trecho do livro da menina israelense, que não saberei nunca escrever poesia em hebraico, o idioma que aprendi nos sete anos em que morei em Israel. Talvez sequer um conto eu poderei escrever um dia em hebraico. Mas então me ocorre que em português, o idioma que eu aprendi e com o qual convivo há quase 34 anos, nada produzo, há muito tempo já. E bate algo que não chega a ser um desespero, mas uma frustração. Tento resolver escrevendo essas linhas.
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