Já notou como a insônia é uma sacana? Você tem um milhão de coisas para fazer, certo? Além de tudo que tem para fazer, dos prazos, das pressões, da bagunça acumulada no armário que nem fecha, tem as preocupações que assombram seus pensamentos. Por causa deles, você não dorme. Rola na cama, para lá e para cá. Cabeça sob o travesseiro, travesseiro sob a cabeça, travesseiro em volta da cabeça, cabeça sem travesseiro. Travesseiro voa para o chão. Acende a luz, abre um livro. Acende um cigarro, fuma. Nada.
Levanta.
Um copo d’água deve ajudar. Talvez dois. Três parece exagero, mas você toma assim mesmo. Não ajuda, mas pelo menos você vai usar o tempo perdido da sua insônia para ir ao banheiro 19 vezes. A cama já não parece uma boa. O livro vai para a sala, TV desligada, luz acesa. Duas páginas, dez, vinte. Quando você precisa ler, adormece depois de três. Agora, está lendo a trigésima e a história te prende. Fecha o livro. Mais um copo d’água não vai fazer mal. Melhor: um chá. Deve dar sono. A água não ferve, quando ferve vira chá. Você toma.
Volta para a cama.
Mas não adormece, claro. No teto, sobre você, aparecem os números vermelhos das dívidas. Aparece o dedo em riste do chefe. Aparecem a namorada e as cobranças. Aparece a mãe reclamando por você não ligar quando chega. Aparecem muitos, muitos, muitos carneirinhos. E você repara nos detalhes de cada um deles enquanto saltam sobre a cerca do sono. Que não vem. Quem disse que contar carneirinhos ajuda?
Depois de longas horas, você se lembra que terá menos horas para dormir do que as que já ficou acordado. E aí vem a parte (mais) sacana da insônia: você tem inúmeras coisas para fazer, mas a essa altura já está com olheiras que te cegam o olhar, com os olhos que insistem em te fazer pescar, com o saco cheio de ouvir os programas ruins da madrugada na televisão, que nesse ponto já está ligada. Não consegue produzir. Quem produz na insônia tem o meu respeito.
Eu não consigo.
(Foto: Como vencer a insônia, em um site lituano)
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