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  • Writer's pictureGabriel Toueg

Algumas observações sobre esse 12 de maio de 2016

Coisas que eu aprendi e algumas observações desse 12 de maio de 2016, dia em que a presidente brasileira, Dilma Rousseff, foi afastada para o julgamento do impeachment [versão ampliada]

– Se é golpe ou não é, tanto faz. Dê o nome que quiser, mas entenda o que está acontecendo. Muita gente parece não ter entendido. Ou prefere usar antolhos e fingir que, não vendo, não está lá. É pueril, é inocente. Ou é mal intencionado, mesmo. Sinceramente, não sei qual escolher.

– Não, não é “tanto faz” o fato de o governo Temer ter nenhuma mulher nos ministérios. Ou nenhum negro. Passamos de ter a primeira presidente mulher a ter um gabinete formado só por homens brancos. É sintomático, é triste, é um retrocesso. Como destacou a imprensa, é a primeira vez desde Geisel que isso ocorre. É revoltante.

– Dilma insiste em sua inocência. Quem sou eu, aqui longe, para acreditar ou duvidar? Ninguém. Mas chamou minha atenção ela ter dito que pode ter cometido erros, mas que não cometeu crimes. E ela citar “a dor da tortura, a dor da doença (o linfoma que superou) e (agora) a dor da injustiça”. Sendo mesmo assim e tendo ela sido eleita de forma democrática, por uma maioria composta por 54 milhões de brasileiros, precisaria ir até o fim do mandato. Uma análise publicada no El País foi certeira nesse ponto: “É uma operação liderada por legisladores muito mais suspeitos de corrupção que Rousseff”. Crise não é motivo para impeachment. Ser impopular, tampouco.

– Por outro lado, além de não ter mulheres ou negros, o governo Temer arranca com nomes imundos nos ministérios (exemplos abaixo; fonte: Folha), tão ou mais imundos que os nomes de muitos dos deputados que votaram na Câmara em 17 de abril. Além disso, há candidatos derrotados à presidência, ao menos três alvos da Lava Jato (Romero Jucá, no Planejamento, Geddel Vieira, na Secretaria de Governo, e Henrique Eduardo Alves, no Turismo). Que baixaria! Qual o limite para rirem da nossa cara? É o novo “rouba mas faz”? Você apoiou o impeachment para isso? A ideia não era acabar com a corrupção?

  1. Blairo Maggi (PP-MT): Agricultura, Pecuária e Abastecimento – era alvo de inquérito por suspeita de lavagem de dinheiro, que foi arquivado pelo STF

  2. Bruno Araújo (PSDB-PE): Cidades – está na lista de financiados pela Odebrecht, mas nega irregularidades

  3. Eliseu Padilha (PMDB-RS): Casa Civil – foi acusado de irregularidades no pagamento de precatórios, mas sempre negou

  4. Geddel Vieira Lima (PMDB-BA): Secretaria de Governo – suspeito de negociar propina com a OAS, o que ele nega

  5. José Sarney Filho (PV-MA): Meio Ambiente – filho de Sarney (e isso ele não pode negar!)

  6. José Serra (PSDB-SP): Relações Exteriores – foi intimado para depor sobre fraudes na licitação de trens, mas nega participação no esquema; é candidato derrotado à presidência

  7. Henrique Alves (PMDB-RN): Turismo – está na lista da Odebrecht, mas nega irregularidades

  8. Mendonça Filho (DEM-PE): Educação e Cultura – também está na lista da Odebrecht e também nega irregularidades

  9. Maurício Quintella (PR-AL): Transportes, Portos e Aviação Civil – foi condenado por participação em esquema de desvios de recursos da merenda escolar

  10. Raul Jungmann (PPS-PE): Defesa – está na lista da Odebrecht, mas nega irregularidades

  11. Marcos Pereira (PRB): Indústria e Comércio – é bispo licenciado da Igreja Universal e teve a indicação para Ciência e Tecnologia descartada após polêmica sobre seu perfil religioso (nunca é demais lembrar que somos um país laico)

  12. Ronaldo Nogueira de Oliveira (PTB-RS): Trabalho – teve reprovadas as contas referentes à campanha eleitoral de 2014

– Aliás, você esperava, com a saída da Dilma e a entrada do Temer, o fim da crise, da corrupção, de todos os problemas do Brasil. Te enganaram, não foi? Então começa a entender: esse papo de que “a Dilma é só a primeira, vamos prender o Cunha, derrubar o Calheiros, enterrar o Temer” etc é enganação, também. Não vai ter nada disso. Eles estão todos rindo da sua cara (e da minha) enquanto você está lendo isso aqui.

– Chamou a atenção a apatia e o aparente cansaço e abatimento do Lula. Não sou lulista, não votei nele, não tenho especial simpatia por ele, mas pouco interessa o PT ou minha ideologia política aqui. Enquanto a Dilma discursava de improviso, pela TV eu não conseguia deixar de reparar no Lula, olhar fixo em algum ponto distante, mexendo no bigode de forma mecânica, não reagindo às falas de Dilma, parecendo não querer estar ali, transparecendo exaustão. Tentei me colocar no lugar dele. Agradeci por não ser eu ali… Fizeram piadas sobre o estado dele, mas eu não achei a menor graça.

– Graça, mesmo, nos bastidores, com a ironia do engarrafamento em que ficou preso o senador Vicentinho Alves, que levava a intimação para a Dilma de manhã cedo e a história de que o Temer adormeceu durante a votação no Senado e acordou com o barulho do foguetório, já quase presidente interino. Meu lado jornalista aqui: deve ser fascinante ver essas coisas de perto. Por outro lado, pode ter sido distração mas não vi, lamentavelmente, nossa bela, recatada e do lar primeira-dama interina. Bem recatada, mesmo.

– Sobre os foguetórios, comprova minha teoria inicial deste post: tem muita gente que não entendeu nada. Ainda.

– E pra acabar, Bolsonaro em Israel, batizado no Rio Jordão, em dia decisivo e histórico no Brasil. Direito dele. Fé dele. Caguei. Mas foi lamentável e de dar raiva ver um bando de brasileiros estúpidos, alguns dos quais conhecidos de conhecidos meus, celebrando com ele o resultado da votação no Senado. Sobre isso: brasileiro é paga-pau de “celebridade” e gosta de esquecer. Não tem o que dizer. Não tem a coragem do enfrentamento e de questionar. Prefere sorrir e ser simpático quando devia, aí sim, cuspir na cara. Bando de bundões. O cara defende a ditadura, acordem! Por acaso acabei vendo dois vídeos de 2 anos atrás de um bate-boca dele com uma jornalista da Rede TV, que Bolsonaro a chama de “idiota” e de “analfabeta” ao ser questionado sobre sua opinião com relação à ditadura. Não temos limite mesmo. Tudo podem na República do Bananal.

– Foi um dia especialmente triste. Dei minhas razões lá no Facebook.

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