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Writer's pictureGabriel Toueg

De quando não ouvi Daniel Piza

Conheci Daniel Piza bem antes de ele me conhecer. Eu era leitor dele na época da Gazeta Mercantil, jornal que meu pai deixava no gigante banheiro da casa dele, espalhado e invariavelmente aberto na sua coluna predileta, com frases sublinhadas e anotações no canto das páginas.

Por isso, quando Piza lançou seu último livro, uma retrospectiva da última e complicada década, fiz questão de comprar dois volumes e pedir a ele uma dedicatória ao meu pai – e uma para mim. Enquanto assinava, ele comentou que lembrava de mim “lá do jornal”. A sala de Piza ficava logo ali, perto da Internacional, forrada de livros.

Para um jornalista bem menos iniciado e fã confesso que fui naquele momento, foi uma enorme satisfação saber que ele me vira e me reconhecera. Fomos colegas durante os últmos nove meses deste 2011, que termina amargo com a notícia de sua morte tão prematura.

Naquela ocasião em que conversamos rapidamente, Piza falou a leitores e fãs. Eu perdi a palestra que antecedeu os autógrafos porque saí tarde do jornal. Mas não houve quem não o tivesse elogiado enquanto esperava sua vez de ter seu “Dez anos que encolheram o mundo” autografado.

Tenho pouco a dizer a respeito daquela convivência. Houve um episódio, contudo, quando a Nasa decidiu aposentar os ônibus espaciais. Piza me entrevistou ao vivo na rádio Estadão ESPN a respeito. Ao me apresentar, ele se enrolou com a pronúncia do meu sobrenome e, sem saber, criou o “Touareg”, que acabou virando meu apelido na redação.

Recebi a triste notícia hoje de manhã, por email, do colega Gustavo Chacra, correspondente do Estadão em Nova York, para onde Piza iria no começo do ano. Era um sonho dele, como o Chacra escreveu. O sonho não será realizado.

O jornalismo, com a morte de Piza, encolheu, como o mundo do livro que escreveu. Deixo aqui meus sinceros sentimentos à família.

Olá, Daniel. Como é que você está? Muito bem, obrigado. A única coisa que queria fazer mais na minha vida é viajar. E voltar a lugares como Portugal. Bom, isso pode ser um bom desejo para 2008. Aliás, você já fez os seus pedidos para esse ano? Para mim, que tudo continue como está, apesar das dificuldades de uma carreira assim numa nação como esta. Para uma nação como esta, que as pessoas não aceitem que tudo continue como está.
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