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Writer's pictureGabriel Toueg

Essa coisa de mudar. De novo

Lá vou eu, de novo. Aos 25 anos, passei pela mesma “função”. Encaixotei livros, que aos poucos vieram, comigo nas malas ou pelo correio. Muitos ficaram e estão até hoje na casa da dona mãe, nas mesmas caixas. Joguei muita coisa fora: papeis, lembranças, tralhas. Juntei meia dúzia de roupas, que somaram quase 80 quilos. Passaram no voo só de ida da Iberia, naquele 4 de julho de 2004.

Hoje, quase sete anos depois, lá vou eu. De novo. Os livros que vieram aos poucos e os que eu comprei por aqui (acontece quando você aprende um idioma novo e entende que pode ler muito mais naqueles dois que estavam mofando na memória) viraram 14 caixas, pela última contagem. São 100 quilos de leituras que fiz e que ainda preciso fazer. E outras tralhas, porque acumula-se muita tralha durante sete anos. De novo, passagem só de ida, pela Alitalia.

Estou voltando.

E as pessoas têm me perguntado o que ando sentindo. Lá vai: não tem uma coisa só. É uma mistura louca de emoções. Nostalgia, estresse, medos mil, otimismos, empolgação com o novo-velho de novo, cansaço, saudade, insônias acumuladas, maços de cigarro que, de repente, estão vazios. Tensão. E se os 64 quilos da bagagem não passarem? E se as caixas demorarem demais a chegar? E se…

Sete anos, período típico de crise, não é pouca coisa. Nos últimos sete, aprendi um monte, de idiomas a quem são e o que querem os povos daqui. Ensinei um pouco, nas minhas matérias, nas minhas palestras, nos papos descompromisados que começam sempre com um “Estamos em perigo?” Me cansei e descansei, em terra nova de milhares de anos, centro do mundo, presença fácil em qualquer veículo que queira respeito.

Fiz jornalismo, o que mais gosto de fazer. Fiz textos na correria dos acontecimentos, fiz outros “lambidos” com o tesão do autor e a demora que me permitiram. Fiz rádio, e aprendi a me apaixonar pelo veículo mais dinâmico que existe. Até apareci na TV… Aprendi a ser frila.

Convivi com Nahum Sirotsky, “Foca Zero” de Joel Silveira, professor de jornalismo e de vida que ensinou em algumas muitas conversas mais do que se pode aprender em qualquer boa faculdade de comunicação. Até hoje, literalmente, estou aprendendo com ele, que adotei como avô.

Fiz amigos. É verdade que as redes sociais não diminuem distâncias, mas fiz amigos que ficam. E que deixam saudade. Para eles, as portas da casa que eu vou ter em Sampa estarão sempre abertas, sem necessidade sequer de aviso prévio. Vivi amores, dos mais estranhos amores que o Oriente Médio pode dar.

Amanhã embarco para São Paulo. Uau! Tudo aconteceu depressa e estou ainda cuidando dos últimos preparativos. As malas já estão fechadas, as caixas seguem hoje para o correio, de lá para algum navio, e em três meses chegam. Onde estarei dentro de três meses? A borboleta, de novo, bate suas asas.

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