Deparei-me ontem com um livro – que para mim é novo – do Amós Oz no Frans Café que fica pertinho de casa, da minha casa nova. Não teria comprado se não fosse Amós Oz, de quem já li tantos livros – e com quem já tive o prazer de conversar – e se não falasse tanto sobre essa coisa nossa de escrever e imaginar personagens ao observar pessoas.
Sugiro a leitura. O nome em hebraico é “Charuzei hachaim ve hamavet“, ou “Rimas da vida e da morte”, na tradução da Companhia das Letras.
Deixo um tira-gosto, que não é apenas isso, mas uma série de perguntas que o escritor que é o personagem principal do livro precisa responder e com as quais eu, em outras funções, já precisei lidar:
E estas são as principais perguntas: por que você escreve. Por que você escreve exatamente desta maneira. Se você quer influenciar seus leitores. E se quer – em que sentido tenta influenciá-los. Que função exercem suas histórias. Se você apaga e corrige o tempo todo ou deixa o texto fluir direto de sua inspiração. Como é ser um escritor famoso e como isso afeta a sua família. Por que você descreve quase que somente os lados negativos das coias. Qual a sua opinião sobre outros escritores, quem influenciou você e quem você não suporta. Aliás, como você define a si mesmo? Como responde àqueles que o atacam, e como se sente quanto a isso? Você escreve à caneta ou usa um teclado? E quanto você ganha mais ou menos com cada livro? Você vai buscar material para suas histórias em sua imaginação ou na vida real? O que pensa a sua ex-mulher das figuras femininas em seus livros? E por que, aliás, você abandonou a sua primeira mulher – e a segunda também? Você tem horas fixas para escrever ou só escreve quando a musa lhe ordena? Você é um escritor engajado, e, se é, em que causa? Suas histórias são autobiográficas ou ficcionais? E, principalmente, sendo você um artista, como é que sua vida pessoal não é tão movimentada assim? Pode-se dizer que é uma vida pessoal bem quadradinha? Ou ainda há uma porção de coisas sobre você que não sabemos? E como é que pode um escritor, um artista, trabalhar a vida inteira como contador? Isso é só um meio de ganhar a vida? E, diga, o fato de ser um contador não acaba totalmente com a sua musa inspiradora? Ou você tem também uma outra vida que não quer revelar? Talvez nesta noite você concorde em nos dar pelo menos algumas dicas quanto a isso. E quem sabe poderia nos relatar, resumidamente e em suas próprias palavras, o que você quis dizer em seu útlimo livro. Existem respostas espertas e existem repostas evasivas. Respostas simples e diretas não existem.
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