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Writer's pictureGabriel Toueg

Guila Flint, veterana jornalista brasileira (1954–2017)

Updated: Jan 24

Guila Flint (23.out.1954 – 26.mar.2017) não era otimista. Nunca foi. Quando jornalistas brasileiros nos encontrávamos em Israel, terra em que ela vivia e conhecia como poucos, ela era a voz da desesperança em relação ao interminável conflito. O pessimismo, entretanto, destoava da doçura de Guila.


Sua trajetória se confunde, em grande medida, com a história dos judeus e do Brasil nas últimas décadas. Filha de refugiados poloneses do Holocausto, Guila nasceu em São Paulo, onde os pais se exilaram depois de fugir do nazismo.


Ela só tinha 14 anos, em 1968, período de chumbo da Ditadura Militar, quando os pais a colocaram num navio e a mandaram para Israel. Eles tinham medo de que ela, adolescente ativa em protestos e assembleias contra a ditadura, sofresse com a repressão do regime.


Eles haviam conhecido o peso da tirania.


Sozinha, Guila foi morar num kibutz, comunidade israelense agrícola. Mais tarde, se mudaria para Tel Aviv, cidade que adotou e onde, em diversas vezes, nos vimos. Não me lembro se foi a última, mas houve um encontro, a pedido da Conib, às vésperas da visita de Lula ao Oriente Médio, com todos os jornalistas que trabalhávamos lá.


Ela não faltou.


Em 1975, formou-se em jornalismo pela Universidade de Tel Aviv. Ela só conseguiria voltar ao Brasil em 1979, na reabertura. Guila colaborou para diversos veículos de comunicação, como O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, CartaCapital, Globonews, BBC Brasil, Portal Terra e Opera Mundi. Quando nos conhecemos, ela era a correspondente da BBC em Israel, onde viveu novamente a partir de 1995.


Guila escreveu vários livros. O mais recente é Miragem de paz: processos e retrocessos, Israel e Palestina. É uma coletânea de textos seus, mas é também a impressão de seu pessimismo em relação ao conflito.


Guila Flint fazia cobertura impecável e isenta no Oriente Médio. Vai deixar muita falta. Que descanse em paz, na paz com que sonhou, mesmo pessimista e com seu observador ceticismo, para a região que cobria tão bem. Ela tinha 62 anos e vivia em São Paulo, onde lutava contra um câncer.

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