Morreu na madrugada de hoje, no horário local, o ex-presidente e ex-premiê israelense Shimon Peres, o último dos pioneiros do Estado judeu. Arquiteto do programa nuclear israelense, ganhador do Nobel da Paz em 1995 ao lado de Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, Peres virou o “eterno perdedor” – dizia-se que nem eleição para síndico ele ganhava.
Mas em 2007, ao ser escolhido – após a desistência dos concorrentes – para a presidência do país (cargo decorativo no parlamentarismo israelense), parecia deixar para trás essa imagem. Nunca deixou de ser lenda, entretanto. Em 2015, entre boatos de que estava morto, Peres brincou, em um post no Facebook: “Ainda não”
“Quero agradecer os cidadãos de Israel pelo apoio, preocupação e interesse e gostaria de esclarecer que os boatos são falsos”.
Viciado em trabalho, concluiu a presidência em 2014, aos incríveis 91 anos, mas não parou de fazer o que mais gostava. Ao deixar o cargo, continuou a ser o homem com a agenda mais movimentada entre os líderes e políticos israelenses.
Brincalhão, usou a oportunidade (e a idade) para fazer um vídeo bem humorado em que buscava trabalho e lembrava algumas das icônicas frases de sua carreira política, como “a paz é a única solução”. Apesar de sonhar com a paz e de acreditar e trabalhar por ela, não viu muito avanço na relação com os vizinhos.
Conheci Peres pessoalmente em 2010, quando o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, foi recebido em Jerusalém por ele. Nuzman começava a vender os Jogos Olímpicos do Rio mundo afora e despertava a atenção de empresários israelenses. Eu era o único jornalista acompanhando o encontro deles na residência oficial da Presidência e Peres se deixou fotografar e se mostrou bem humorado – falou ainda, informalmente, sobre a idade e o papel de estadista.
Deixo aqui alguns dos melhores textos que li hoje sobre Peres.
De perdedor a lenda-viva, Peres personificou os dilemas de Israel (análise de Marcelo Ninio, que foi correspondente em Israel, na Folha de S.Paulo)
As a peacemaker, Shimon Peres never won over the Israeli public (Anshel Pfeffer, no Guardian)
Shimon Peres: A renaissance man and workaholic who outlived all his rivals (Greer Fay Cashman, no Jerusalem Post)
Muere a los 93 años Simón Peres, el último de los fundadores de Israel (Juan Carlos Sanz, no El País)
“No hay otra alternativa a la solución de los dos Estados” (entrevista de Peres a David Alandete, do El País, em 2013)
Shimon Peres: an optimist with a commitment to peace (Mark Schulman, no site do World Economic Forum)
Peres: From nuclear pioneer to champion of peace (Jonathan Lis, Haaretz)
Shimon Peres, o sonhador pragmático (de João Miragaya, no Conexão Israel)
Behind the Scenes With Shimon Peres (belas fotos e texto de Lynsey Addario, do New York Times)
Muere Shimon Peres, el expresidente de Israel que pensó que los palestinos podrían llegar a ser sus “amigos más cercanos” (BBC Español)
Shimon Peres, a lenda da história de Israel (bonito obituário de Manuel Teixeira, no TSF português)
Shimon Peres: Peacemaker or war criminal? (Jonathan Cook, na Al Jazeera)
Update: três mais (incluindo vídeos).
A look back at the life of Shimon Peres (Oren Liebermann, na CNN)
Shimon Peres hailed as “a soldier for Israel” (Holly Williams, na CBS News)
How Shimon Peres saved the Israeli economy (Dany Bahar, no site da Brookings Institution)
“Meu sonho não era ser presidente. Meu sonho era ser um pastor ou um poeta das estrelas” — Shimon Peres (1923-2016), ao assumir o cargo, em julho de 2007 (leia outras frases)
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