Amos Oz (4.mai.1939-28.dez.2018) era muito mais do que isso, mas para mim ele estará sempre associado aos livros, a muitos livros, a leituras tensas e intensas sobre um pedacinho do mundo que eu adotei como meu depois de conhecer pela sua literatura, que me acompanhou também quando eu lá vivia.
Foi a partir do olhar desse escritor, romancista, jornalista e intelectual israelense, nascido em uma Jerusalém anterior à fundação do país, que eu conheci a fundo a sociedade israelense. Foi a partir de sua literatura que fui apresentado a um tipo de narrativa que quase inexiste nas diásporas, elas que insistem, nos dois lados dessa relação, em olhar para o outro com ódio, suspeição e rancor.
Foi a partir dos livros emotivos, ricos em detalhes de personalidades e verdadeiros, que levam à reflexão em cada página e traçam um honesto panorama do Oriente Médio, que me apaixonei por essa região.
Amos Oz era muito mais do que os livros e os artigos que escreveu. Era um ativista incansável pela paz. Era habitante de um dos mais bonitos desertos que eu já conheci (em uma dessas ocasiões, quase nos conhecemos pessoalmente por meio de seu filho, o que acabou não acontecendo por uma questão de última hora).
Meu favorito dele não é o clássico Uma história de amor e trevas (2002), mas o sensível A caixa preta (1988), que recomendo fortemente. Hoje Oz nos deixa, aos 79 anos, vítima de um câncer. Como destacou o DW, Oz era um dos escritores israelenses mais lidos no mundo, ganhador de dezenas de prêmios. Sua obra foi traduzida para 45 idiomas. Em 2007 Oz esteve no Brasil e foi entrevistado no Roda Viva. Assista:
A notícia é triste para quem aprendeu a ver aquele pedaço do mundo com a coragem e o vislumbre de Oz. Que descanse em paz.
Versão editada e ampliada de texto publicado originalmente no Instagram. Foto: Imago/Leemage
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