Você talvez não se lembre quem é a menina que aparece nessa bonita foto da revista Times. A garota, Malala Yousafzai, foi escolhida pela Times como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo, ao lado de nomes como Barack Obama, Yair Lapid, Xi Jinping, Peña Nieto, o papa Francisco, Aung San Suu Kyi e Joaquim Barbosa. Para aparecer na lista, o que ela fez foi levantar-se em um país em que mulheres não têm voz, o Paquistão, e pedir o direito à educação, com um blog. Devido ao seu ativismo, o Taleban tentou calar Malala, 14 anos, a tiros.
“Milhares de pessoas foram mortas pelos terroristas e milhões foram feridas. Eu sou apenas uma delas. E aqui estou: uma menina entre tantas outras”. Com essas palavras, em um aplaudido discurso na sede da ONU, em Nova York, Malala relata como os fundamentalistas do Taleban, que ela chama de “terroristas”, tentaram matá-la, com tiros disparados contra seu rosto e pescoço em seu ônibus escolar. Depois de uma série de cirurgias e esforços em hospitais britânicos, ela sobreviveu. Sua voz passou a ser ouvida no mundo.
‘Área de Pashtuns’. Mas há diversas outras meninas, as “irmãs de Malala”, cuja voz não é ouvida. A jornalista brasileira Adriana Carranca, repórter especial do jornal O Estado de S. Paulo, autora de dois livros, sobre Irã e Afeganistão, deu voz a algumas delas, como Nazia, de Khyber Pakhtunkhwa, Mahnun e tantas outras, anônimas. O resultado é um brilhante texto publicado na revista Foreign Policy, um dos mais importantes e influentes veículos sobre relações internacionais do mundo: Malala’s Forgotten Sisters.
A reportagem, uma inspiração de bom jornalismo e de textos que podem ajudar a mudar realidades, expõe – com a coragem que Adriana tem ao investigar a região – os casamentos forçados de meninas tão ou mais jovens que Malala. No Paquistão, a lei determina que a idade mínima para casar é 18 para meninos e 16 para meninas. Elas, entretanto, não podem dirigir, votar ou abrir uma conta bancária antes da maioridade civil.
Pessoas privilegiadas. “Quanto mais gente conhecer a história dramática dessas meninas, mais perto estaremos de alguma solução”, escreveu Adriana. Tomei a liberdade de reproduzir o recado, porque talvez seja o mais importante do texto. “As leis existem, falta pressão internacional”, disse a jornalista, com quem trabalhei no Estadão, e de quem aprendi muito sobre a paixão pela profissão. “Essas são as histórias emocionantes de meninas paquistanesas corajosas o bastante para dividi-las comigo. Espero ter honrado suas palavras“.
Publicar em uma revista importante e com o alcance da FP é certamente uma grande conquista para qualquer jornalista brasileiro, com todas as barreiras linguísticas e culturais que podem existir. Só isso já seria motivo para parabenizá-la efusivamente. Mas Adriana Carranca não é uma jornalista qualquer. Ela é uma apaixonada pelos personagens, pelas histórias, por ter a chance de dar voz a quem não é ouvido. “Somos pessoas privilegiadas e ter consciência disso me obriga a expor histórias como a de Nazia”.
Ajude a dar voz a essas meninas compartilhando o texto de Adriana.
Foto: Mark Seliger/Time
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