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Writer's pictureGabriel Toueg

Rita Lee, brasileira, rainha do nosso rock (1947 – 2023)

Updated: Apr 8

Eu nunca fui muito de ir a shows, mas estive em um de Rita Lee Jones (31.dez.1947 – 8.mai.2023), muitos, muitos anos atrás, quando ela ainda gritava forte, de cima dos palcos, com o vozeirão que não combinava com seu tamanho físico diminuto, que, por sua vez, não combinava com a sua enormidade. Era um show pequeno, em São Paulo.

Rita Lee em 2010

Rainha do nosso rock, transgressora, a mais completa tradução de Sampa, feminista sem sê-lo, louca quem lhe dissesse — porque era feliz.


Daquele show eu trouxe uma memória engraçada.


Um cordão de seguranças separava o palco do público. Não era público grande, o show era relativamente pequeno para o tamanho dela. Mas havia seguranças.


De repente, como se nada, Rita puxa pra cima do palco um dos seguranças, de uma forma ainda incompreensível até para mim, que presenciei a cena quadro a quadro, com meus olhos.


O segurança queria morrer de vergonha, não estava lá para ser visto.


Mas ela não se importava, “causar” era ritaleear — e qualquer símbolo de autoridade era, pra ela, risível. Quando se despediu dos palcos, em Aracaju, em 2012, houve confusão na plateia envolvendo policiais, que revistavam pessoas no meio da apresentação porque fumavam maconha. Ela interrompeu o show e usou o microfone:



Olha, se a polícia bater, eu vou falar para o Brasil inteiro, denuncio e processo. Isso é força brutal. Vocês não têm o direito de usar a força na ‘meninada’ que não está fazendo nada. [...] Eu quero falar, tenho o direito. Esse show é meu, não é de vocês. Esse show é minha despedida do palco e vocês continuam tendo que guardar as pessoas, não agredir. [...] Cafajestes. Vocês estão fazendo de propósito. Eu sou do tempo da ditadura. Vocês pensam que eu tenho medo, porra? [...] Eu sou mulher. Tive três filhos, uma neta, 67 anos. O que vocês vão fazer? [...] As pessoas estão me esperando cantar. Não é a gracinha de vocês, seus filhos da puta. Vêm me prender. [...] Cadê o baseadinho para eu fumar agora.

Naquele show e no show a que assisti, maravilhosa, Rita tirou gargalhadas do público. Recebeu apoio em Aracaju, quando acabou presa. No show em São Paulo, arrancou o coro nas músicas que todos conheciam, todos conhecem, todos cantaremos por décadas mesmo depois da triste partida desse mulherão.


Que pena. Vão-se os nossos ídolos.


Você faz falta, Rita. Agora faz falta você.

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