Hoje, quando
mais de 135 milhões de pessoas vâo às urnas no Brasil para escolher seus candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual, aqui em Israel sigo minha rotina normal – com a única diferença de que estou cobrindo as votações dos brasileiros que vivem em Israel e nos territórios palestinos.
Eu não voto. Perdi o prazo para transferir meu título. Vou pagar a multa quando viajar ao Brasil. Segundo o TSE, cerca de 200 mil eleitores brasileiros moram fora do país – e podem votar apenas para presidente. Desses, 21 mil moram nos Estados Unidos, como conta o Gustavo Chacra.
Apesar de cerca de 15 mil brasileiros viverem entre Israel e os territórios palestinos, de acordo com o Itamaraty, o número de eleitores por aqui é bem pequeno. Em 2006, 238 votaram em Tel Aviv e 824 em Ramallah. Este ano, segundo a Embaixada em Tel Aviv, são 282 em Israel (19% a mais que em 2006). De acordo com o Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, são 876 em territórios palestinos, embora a lista oficial tenha apenas 439 nomes (46,7% a menos).
Exatamente como o Gustavo fez no post dele, quero contar que, também aqui em Israel (e no mundo árabe), o voto não é obrigatório. Quando há eleições – em geral em um dia útil comum, diferente do que ocorre no Brasil, as pessoas podem pedir licença de algumas horas para ir até o local de votação. Ou não. Podem decidir que não votam.
Quando votam, manifestam seu desejo político democrático e escolhem um candidato. Votar em branco, portanto, é perda de tempo. Em eleições como as de hoje no Brasil, em que tenho visto quão desmotivadas e em dúvida as pessoas estão, a opção por não votar é também uma manifestação democrática. É o que aconteceria em Israel em uma situação assim.
Um caso típico desses aqui em Israel é a votação para prefeitos (não há votação para governadores, já que não há estados). Diferente do que ocorre nas eleições para primeiro-ministro, muito mais concorridas, pouca gente deixa o que está fazendo para decidir quem ocupará a prefeitura da cidade onde mora.
Por conta disso, aliás, os ortodoxos elegeram, em 2003, o também ortodoxo Uri Lupolianski para prefeito de Jerusalém, cargo considerado muito importante no país – pela relevância da cidade. Eles conseguiram eleger um candidato ortodoxo porque fizeram campanha e apostaram que os seculares ficariam em casa. Deu certo. Em 2008, nas últimas eleições, contudo, o jogo mudou, e os seculares elegeram Nir Barkat, secular, para o cargo.
Um dado ilustra o que acontece quando o voto não é obrigatório: a taxa de comparecimento nas eleições para primeiro-ministro em 2009 foi de 65,2%. Muita gente não deixou a rotina para votar. No dia da eleição, que eu cobri em Jerusalém, chegaram a ampliar o horário de votação para tentar atrair mais gente. Não deu certo. Os israelenses estavam desmotivados.
Se, por um lado, o Brasil está atrasado na questão do voto obrigatório, arrastando eleitores às urnas ou cobrando multas (ainda que irrisórias) de quem não vota nem justifica, em Israel há um atraso enorme, também, em outro quesito: aqui não existem urnas eletrônicas, como no Brasil.
A contagem dos votos é feita manualmente. Os eleitores depositam um papel com a legenda do partido em um envelope azul, que é introduzido depois em uma urna. É um gasto estúpido de papel. Os votos aqui são bem menos numerosos, e a contagem é bem mais rápida. Em 2009 votaram 3,4 milhões de pessoas. Mesmo sendo poucos votos, o uso de papel dá margem a irregularidades, como eu contei em 2009.
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